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Sessões de hipnose ganham cada vez mais adeptos

Estado de consciência alterada promete melhorar ejaculação precoce e até passar em concurso público.

Se a palavra hipnose do título fisgou o caro leitor, a ponto de fazê-lo ler neste segundo esta exata linha, é provável que seu cérebro já tenha gerado duas imagens específicas. Alternativa A: num cenário em tons de sépia, um sujeito com ar distinto balança um pêndulo para uma mocinha acomodada num divã, dizendo que ela está “com sooono” e que “suas pálpebras estão ficando cada vez mais pesadas”. Ou possibilidade B: um homem com sotaque hispânico faz um interlocutor em estado zumbi imitar uma galinha, diante de gritos histéricos de uma plateia embasbacada. É verdade que essas duas cenas povoam da literatura aos filmes de Hollywood, passando, é claro, pelos programas de TV. Mas, depois de uma semana de conversas com especialistas sobre experiências de estado de consciência alterada, é possível cravar que a hipnose passa a léguas de distância desse imaginário burlesco.

E ela está por todos os lados. Há dentistas que prometem maravilhas sem anestesia, cursos de auto-hipnose para passar em concursos públicos, hipnose para emagrecer, para falar inglês, largar o cigarro (revistas de fofoca dizem que Brad Pitt é adepto fiel) e até uma rede de hipnose que promete resolver quase qualquer agrura em cinco sessões. Mas, antes de correr para o telefone mais próximo, é preciso entender o que é hipnose. A explicação mais simples prega que é um conjunto de técnicas usadas por diversos profissionais, que colocam o hipnotizado num ponto que fica no meio do caminho entre a vigília e o sono. Uma vez nesse estado alterado de consciência, o paciente pode receber sugestões, geralmente terapêuticas, de acordo com o seu objetivo. A lógica é a de que, quando se está nesse transe hipnótico, as defesas caem e a mensagem “cola” no cérebro com mais eficiência do que se a pessoa estivesse totalmente alerta.

Os psicólogos Wellington Zangari e Guilherme Raggi fundaram em 2014 o Grupo de Estudos de Hipnose e Estados Alterados da Consciência do Inter Psi, que funciona no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Por enquanto, eles não fazem pesquisas clínicas, mas estão coletando dados para saber o que as pessoas pensam sobre a técnica.

— Este é um dos campos mais controversos da psicologia. Até a década de 1940, acreditava-se que pessoas com menos escolaridade, crianças e mulheres eram mais suscetíveis. Hoje, já se sabe que isso tem mais a ver com as caraterísticas da personalidade, como as que definem se você é extrovertido ou introvertido. Pessoas com maior capacidade de atenção, meditadores e quem tende a sonhar acordado têm mais facilidade — explica Raggi, que também é mestrando no assunto.

A literatura médica diz que 80% da população são capazes de entrar em estado hipnótico, 10% são muito propensos e o restante, simplesmente, não é passível de ser hipnotizado. O que os especialistas pregam é que o paciente tem plena noção de tudo o que está acontecendo durante o processo e que é ele o responsável pelas mudanças que se sucedem — o hipnotizador apenas conduz o processo. Como quem aparece procurando um tratamento desses, provavelmente, quer muito que a coisa funcione, as chances de dar certo são praticamente garantidas.Há uma semana, por exemplo, um grupo de dez pessoas passou um sábado de sol num consultório fechado a algumas quadras da Praia de Copacabana, para aprender com a psicóloga Miriam Farias a arte da auto-hipnose. Durante três horas, ela mostrou a cartilha de como entrar em transe e ditou comandos positivos para combater ansiedade e estresse e melhorar a memória, a atenção e a concentração. Tudo ao som de uma música new age, com contagem regressiva e comandos numa voz monótona, que parecia sair de uma vitrola tocada em velocidade baixa. A recomendação era que o ritual, gravado nos celulares dos alunos, fosse treinado em casa.

Técnico do Ministério Público, Alexandre Martins frequenta cursos de auto-hipnose desde 2007 para se preparar para concursos públicos. Ele diz que sempre teve problemas de concentração, como chegar no meio da página de um livro e não lembrar do que estava escrito. Hoje, toda vez que se pega numa situação assim, para o que está fazendo e entra em transe por alguns minutos. Martins, obviamente, não vai ficar mais inteligente desse jeito — assim como alguém que come um leitão no jantar não irá perder peso usando somente essa técnica —, mas a hipnose, segundo Miriam, irá ajudá-lo a ficar mais compenetrado com o seu objetivo. O mesmo princípio se aplica em tratamentos que vão da dor crônica a ejaculação precoce, passando por anestesias sem medicamento.

A doutora Elenira Domiciano, por exemplo, é amada pelos aflitos que sofrem do mal da fobia de dentista. Há 20 anos, ela faz hipnose em seus pacientes para que eles percam o medo de entrar em seu consultório, mesmo que, para isso, sejam necessárias oito sessões apenas para passar da porta da sala de espera. Elenira já atendeu gente que não ia ao dentista há duas décadas, extraiu uma centena de dentes sem anestesia, estancou hemorragias na base da palavra e diz que, assim, a cicatrização é bem mais rápida: cerca de dois dias a menos de sofrimento.

O cérebro é movido a sugestões e isso acontece o tempo todo, sem você perceber. A Igreja e os grandes oradores fizeram isso muito bem. Todos esses fenômenos paranormais são efeito de auto-hipnose. É um superpoder — diz ela.

Dá para entender por que a anestesia hipnótica funciona com a pesquisa de Derbyshire, Whalley, Stenger e Oakley (2004). Eles separaram três grupos de pessoas: nas mãos do primeiro, colocaram estimuladores térmicos que chegavam a 50 graus; para o segundo, pediram para que imaginassem que estavam recebendo o mesmo pulso; e o terceiro foi hipnotizado e convencido a sentir o calor. A ressonância magnética mostrou que os hipnotizados tiveram ativamento cerebral muito parecido com o das pessoas com a dor real. E nenhuma delas era comparável ao das pessoas que só imaginaram o calor. E é aí que está o sucesso do negócio.A Rede Clínica da Hipnose ilustra bem como o mercado anda. Fundado em Curitiba há três anos, o consultório fez tanto sucesso que virou uma rede, desmembrada em dez unidades pelo Brasil, em um ano e meio. Os dois primeiros do Rio devem ser abertos em sistema de franquia neste ano (um deles na Barra, em dois meses). Em três salas de 40 metros quadrados, os hipnólogos formados na escola montada pela rede tratarão das mazelas dos pacientes em cinco sessões, com base em um método criado pelo dono da rede, o hipnoterapeuta Alessandro Baitello. No primeiro encontro, o paciente responde um questionário de 50 perguntas e nos seguintes, o tratamento é continuado com a hipnose. Segundo Baitello, dos cinco mil pacientes cadastrados, 93% obtiveram resultados.

Quem jura, no entanto, que foi Joana D’Arc na outra vida ficará decepcionado em saber que o limite das sessões de regressão se limitam à vida uterina, garantem os especialistas. O psicólogo João Oliveira, que atende em Copacabana, diz que o que acontece com frequência é o paciente imaginar toda uma vida de outra encarnação e descobrir, no final, que aquela persona é uma mistura de um personagem com alguém real, conhecido nos primeiros anos de vida. Para acessar esse passado remoto, Oliveira faz uso de uma cadeira específica que se assemelha a uma poltrona de massagem. À medida que ela vibra e emite luzes que lembram o filme “Laranja mecânica”, o psicólogo guia a viagem com um microfone. Reza a lenda que versões dessas cadeiras eram usadas para moldar supersoldados durante a Segunda Guerra.

Cada conselho (de medicina, odontologia, psicologia e fisioterapia) regulamenta a prática da hipnose em seu próprio campo desde os anos 1990. Apesar disso, não precisa ser profissional para aprender hipnose, nem que seja para dar aquela impressionada nos amigos na noite de sexta-feira (até o WikiHow, braço do Wikipedia, tem um manual de como hipnotizar alguém em 20 passos). O que não deixa de ser perigoso.

O hipnólogo uruguaio Fábio Puentes — que, além de impressionar todo mundo na TV com seu bordão “dorme, dorme, dorme”, ensina voluntariamente auto-hipnose para pacientes com dor do Hospital das Clínicas, em São Paulo — lembra de alguns casos, no mínimo, curiosos, como o do ladrão que hipnotizava caixas de banco na Itália.

— Se eu disser “tire a roupa”, você não vai tirar. Mas se eu disser “você saiu da academia e vai tomar um banho”, o que você acha que acontece? A reação se dá se eu der um guardanapo para a caixa do banco e disser que é um cheque. Ela está costumada a fazer aquilo. Mas isso é muita tarefa para pouco lucro, né? — argumenta, rindo e desanimando os candidatos.

Fonte: O Globo


A Rede Clínica da Hipnose ilustra bem como o mercado anda. Fundado em Curitiba há três anos, o consultório fez tanto sucesso que virou uma rede, desmembrada em dez unidades pelo Brasil, em um ano e meio. Os dois primeiros do Rio devem ser abertos em sistema de franquia neste ano (um deles na Barra, em dois meses). Em três salas de 40 metros quadrados, os hipnólogos formados na escola montada pela rede tratarão das mazelas dos pacientes em cinco sessões, com base em um método criado pelo dono da rede, o hipnoterapeuta Alessandro Baitello. No primeiro encontro, o paciente responde um questionário de 50 perguntas e nos seguintes, o tratamento é continuado com a hipnose. Segundo Baitello, dos cinco mil pacientes cadastrados, 93% obtiveram resultados.

Quem jura, no entanto, que foi Joana D’Arc na outra vida ficará decepcionado em saber que o limite das sessões de regressão se limitam à vida uterina, garantem os especialistas. O psicólogo João Oliveira, que atende em Copacabana, diz que o que acontece com frequência é o paciente imaginar toda uma vida de outra encarnação e descobrir, no final, que aquela persona é uma mistura de um personagem com alguém real, conhecido nos primeiros anos de vida. Para acessar esse passado remoto, Oliveira faz uso de uma cadeira específica que se assemelha a uma poltrona de massagem. À medida que ela vibra e emite luzes que lembram o filme “Laranja mecânica”, o psicólogo guia a viagem com um microfone. Reza a lenda que versões dessas cadeiras eram usadas para moldar supersoldados durante a Segunda Guerra.

Cada conselho (de medicina, odontologia, psicologia e fisioterapia) regulamenta a prática da hipnose em seu próprio campo desde os anos 1990. Apesar disso, não precisa ser profissional para aprender hipnose, nem que seja para dar aquela impressionada nos amigos na noite de sexta-feira (até o WikiHow, braço do Wikipedia, tem um manual de como hipnotizar alguém em 20 passos). O que não deixa de ser perigoso.

O hipnólogo uruguaio Fábio Puentes — que, além de impressionar todo mundo na TV com seu bordão “dorme, dorme, dorme”, ensina voluntariamente auto-hipnose para pacientes com dor do Hospital das Clínicas, em São Paulo — lembra de alguns casos, no mínimo, curiosos, como o do ladrão que hipnotizava caixas de banco na Itália.

— Se eu disser “tire a roupa”, você não vai tirar. Mas se eu disser “você saiu da academia e vai tomar um banho”, o que você acha que acontece? A reação se dá se eu der um guardanapo para a caixa do banco e disser que é um cheque. Ela está costumada a fazer aquilo. Mas isso é muita tarefa para pouco lucro, né? — argumenta, rindo e desanimando os candidatos.

Fonte: O Globo

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